domingo, 24 de janeiro de 2016

UMA SEGUNDA INFÂNCIA



Quando se findarem os meus dias
E não me restarem mais canções,
Penso que não serei demasiado velho
Para olhar cada uma das coisas;
Como outrora olhei a porta do berçário
A árvore alta ou o embalar.


Onde a poderosa misericórdia de Deus pende
Sobre todos os meus pecados e sobre mim,
Porque Ele não retira
O terror associado à árvore
As pedras ainda brilham pela estrada fora
Sendo, sem poder ser.


Os homens estão velhos para o amor, meu amor
Os homens envelheceram para o vinho
Mas eu nunca serei velho para ver
O brilho sobrenatural da luz do dia
Mudando o pó do meu quarto em neve
Até que eu duvide se o quarto ainda é o meu.


Contemplem, como a sublime misericórdia se esvai,
Os primeiros espantos resistem;
E no meu nada é depositada uma prenda
Que não me atrevo a pedir:
Que um homem se habitue à dor e ao júbilo
Mas não à noite e ao dia.





Os homens estão velhos para o amor, meu amor
Tornaram-se velhos para mentiras;
Mas eu nunca serei velho para ver
O nascer da grande noite,
Uma nuvem maior que o mundo
Um monstro de mil olhos.


Nem sou digno de desatar
O cordão dos meus sapatos;
De sacudir o pó dos meus pés
Ou do cajado que me suporta
Por ser bom demais para que perdure
Sólido demais para verdadeiro.


Os homens estão velhos para cortejar, meu amor
Os homens tornaram-se velhos para casar;
Mas eu não ficarei velho para ver
Fantásticos e suspensos acima de mim
Caibros incríveis quando acordo
E constato que não estou morto.






Um tremor de tormenta no meu cabelo:
Embora as nuvens negras sejam óbvias,
Ainda assim me dói e me assusta
O primeiro pingo de chuva:
Romance, vaidade e paixão passaram
E só isto ficou.



Estranhos tapetes rastejantes da relva
Amplas janelas do céu:
E nesta arriscada graça de Deus
Eu vou, com todos os meus pecados:
As coisas renovam-se embora eu envelheça
Embora eu envelheça e me vá.



G K Chesterton, Uma Segunda Infância


Tradução, António Campos






Notas: 

Chesterton expressa neste poema algumas das ideias recorrentes na sua escrita e as imagens pictóricas que as ilustram. Os ramos de árvores como vigas suspensas ou o terrível aspecto antropomórfico de certas árvores de folhas caducas como as faias, sobretudo à noite, assustadores e maravilhosos.


O cansaço dos homens pelas maravilhas da natureza, como a noite e o dia, que paralelam o cansaço dos homens pelo amor com compromisso e com honra. Este recorrer e renovar na natureza é uma alegoria da vida humana. Como refere na sua apreciação a Stevenson, “a vida é uma partida contínua mas também é um mar de reconciliação.”

A insignificância do homem, como reconhecido por Job, mas que caminha com confiança, apesar dos seus pecados, pela estrada da vida ao encontro de Deus, onde inacreditavelmente todas as pedras brilham.

A grande noite que se levanta sobre a humanidade que rouba a liberdade humana, a privacidade e a dignidade, uma moderna escravatura, “um monstro de inúmeros olhos”, ergue-se sobre nós que possuímos sempre connosco a graça de Deus e, como tal, circulamos no escuro com o sinal de Cristo e cheios de alegria, porque somos o sal do mundo, a denúncia do mal, “os profetas que vou enviar”. Para tal deveremos ver as coisas comuns como se as víssemos pela primeira vez, como uma criança. O “nascer de novo” de Jesus para Nicodemos.

Porque haverá sempre uma outra vida para quem tiver a humildade de descobrir a humildade, a segunda infância.
E assim, como a relva se abre para depositar o nosso corpo, o céu abre amplas janelas para receber a nossa alma.

Cheios de alegria, como dizia Teresa de Lisieux, seremos “uma gota de orvalho num mar de sofrimento”, como dizia Teresa de Calcutá. Com poucas palavras e muito melhor, Chesterton resumiu tudo neste poema.

sábado, 9 de janeiro de 2016

Chesterton e o Caso Contra o Conservadorismo




Confesso que não me fascina João Pereira Coutinho. Não partilho a sua admiração por Burke, por Oakeshot ou por Disraeli. Como refere Pereira Coutinho no seu livro, todos eles possuem uma ética política posicional, de acordo com as circunstâncias; i.e., prática, não ideológica. O estadista é aquele que sabe ler o espírito da época, encarnando-o, como dizia Hegel. É a “ideologia posicional”, citando Burke: “as circunstâncias dão a cada princípio político a sua cor distinta e efeito discriminatório.”

Mais à frente um reforço da definição hegeliana do estadista como homem que interpreta correctamente a História, mais do que aquele que a pode modificar, citando Isaiah Berlin, “de um estadista espera-se antes que ele seja capaz de captar as permanentemente mutáveis cores dos acontecimentos e os sentimentos e actividades humanas.” O cinismo na política também é enaltecido por Burke e recomendado por Pereira Coutinho: “Quando desejardes agradar a qualquer povo, deveis dar-lhe o benefício que ele pede – não aquilo que pensais ser melhor para ele.” Resumindo, usando as palavras de Vítor Bento, a moral na política basta-se a si própria

Duvido que o conservadorismo se esgote neste snobismo. Creio que jamais o conservadorismo será poder enquanto não ostentar a discrição da humildade. Os homens por mais ignorantes que sejam nunca serão tão estúpidos que não se procurem rever em quem os representa. Podem ser enganados pela hipocrisia, mas dificilmente abrirão o seu coração ao cinismo. Prefiro no terreno conservador homens como Jaime Nogueira Pinto e João César das Neves, para quem a recusa da política do Monte das Bem-aventuranças coloca em risco a civilização ocidental. 12





Na verdade, como afirmava Christopher Dawson,2 o conservadorismo tem a sua raiz no liberalismo e este no iluminismo. Deus é assunto privado e nada tem com os assuntos da sociedade, da cultura ou do Estado. A alma humana é uma imagem, um humanismo. A fraternidade humana é uma partilha da ideia de que o homem vive uma experiência concreta, liberta da presença de Deus, e que a realidade última se encerra neste mundo. Deus é uma imagem ou ideal. Um conservador como Oakeshott diz que é melhor ignorar a religião do que ser importunado por ela. Ora, a maior contribuição de Dawson foi precisamente a de nos mostrar que todas as civilizações nascem e decorrem da crença religiosa: a cultura deriva do culto. Como afirmava Chesterton, “Uma coisa pode ser ignorada desde que seja demasiado grande”.3


O liberalismo, que decorre das ideias de John Locke e da Revolução Gloriosa, http://sociedadechestertonportugal.blogspot.pt/2014/06/john-locke-1632-1704-circunstancia.html, compreende o individualismo económico do comércio livre e o laissez faire ou honi soit qui mal y pense, eufemismos de dinheiro e sexo. Decai no final do século XIX até meados do século XX, muito devido à falência da ideia de progresso contínuo e virtuoso, provocado pelos acontecimentos das duas guerras mundiais. Outras causas para a sua perda, foram o desaparecimento da classe média de pequenos empresários por conta própria e a exploração dos trabalhadores empurrando-os para uma vida miserável, o que motivaria um forte pronunciamento da Igreja Católica, através da Encíclica Rerum Novarum.


O liberalismo persistiu, contudo, quer no reavivar do conservadorismo, sob forma de preservação da tradição, da autoridade e da propriedade, quer na emergência do socialismo, como forma de uma mudança do mundo para incluir os miseráveis. O liberalismo originou à direita um capitalismo plutocrático, com destruição das pequenas empresas de revenda e distribuição, das relações de proximidade e dos pequenos empresários liberais por conta própria. O liberalismo originou à esquerda a destruição da ética de relacionamento pessoal e sexual. Como o socialismo é um ataque de natureza moral e religiosa e o conservadorismo procura responder-lhe apenas com argumentos de natureza económica e política, é natural que haja sempre uma percepção de deficit moral no conservadorismo.





Por detrás de uma imponente retórica, Burke (1729-1797) elogiava a religião, o partido whig, a Revolução Gloriosa e o “ser inglês”. Sobretudo abominava a revolução francesa, embora não a americana, porque contrariamente à americana, não possuía uma vertente liberal e comercial.

Burke era maçon, introduzido na loja pelo primeiro ministro whig, Charles, marquês de Rockingham, de quem foi secretário em 1765, de quem permaneceria íntimo amigo até à morte em 1782. Uma das razões porque não gostava da Revolução Francesa era a de ela representar a regra da maralha. Burke preferia a regra da elite iluminada. Na mente de Burke, o processo substitui Deus, como autoridade imanente em assuntos de jurisprudência e política. Embora anglicano, remete Deus e a sua lei para a esfera privada e para o discurso retórico. Também o cético Hume que pensava que a religião e a moral não possuem fundamento racional, declararia: “procurai um povo inteiramente privado de religião: se o encontrardes, podeis estar certos de que ele pouco difere dos animais.4


Chesterton louvou as qualidades retóricas de Burke, mas criticou a inconsistência e fraqueza do seu pensamento conservador, chamou-lhe relativista e ateu, no sentido em que raciocinava como um ateu, i.e., como um secularista ou como um iluminista, inspirado em Hume. De facto, Burke partilhava a concepção de sociedade de Hume.
Adam Smith elogiaria Burke, dizendo que ninguém antes dele exprimira melhor o seu pensamento sem o conhecer de antemão. É o pensamento oposto ao pensamento socialista.

Então este duplo polo, Hume e Adam Smith, caracterizam o pensamento de Burke e tornam mais clara a crítica de Chesterton:
"Era o dogma de Bentham, Adam Smith e afins, de que algumas das mais reles pulsões humanas se transformariam em coisa boa. Era a doutrina misteriosa de que o egoísmo pode chegar ao mesmo resultado que a generosidade."5






O que mais irritava Chesterton em Burke não eram tanto as suas escolhas, mas as suas razões. Baseadas num ateísmo prático, embora o seu autor não fosse um ateu convicto. Robespierre que era deísta defendeu uma doutrina teísta, a igualdade dos homens perante a lei; Burke que era teísta defendeu uma doutrina ateísta, a de que os homens tinham direitos consignados na lei pela força da herança.6 Burke escolheu Montesquieu sobre Tomás de Aquino. Ou melhor, David Hume: “o útil move a nossa concordância”.


Diz Burke: “Na famosa lei... A Petição dos Direitos, o Parlamento declara ao rei, "Os teus súbditos herdaram esta liberdade", reconhecendo os seus direitos baseados não em princípios abstratos como "os direitos do homem", mas nos direitos dos Ingleses, como um património herdado dos seus antepassados.”

Portanto os direitos que vêm por herança, são os direitos dos senhores face ao rei, não são os direitos de todos os homens, “uma abstracção”. Burke era um aristocrata e a sua democracia era uma oligarquia onde o povo não tinha lugar. Ele não achava que os direitos do homem fossem uma coisa natural, mas uma convenção. Por isso Chesterton o apelidava de inimigo da democracia e “ateu funcional”. Ele faz parte do grupo de pessoas que acredita que a esperança de uma sociedade reside nas suas elites contra aquele grupo de pessoas que acredita que a desgraça de uma sociedade reside nas suas elites.


Na verdade, Burke defende uma História sem saltos, sem convulsões. Uma defesa permanente dos direitos adquiridos pelos ingleses na Magna Carta. Burke era irlandês. Os católicos ingleses desapossados dos seus haveres e da sua vida também tinham os seus direitos consignados na Magna Carta. A Revolução Gloriosa consistiu na covarde deserção do comandante em chefe das forças armadas britânicas, John Churchill, a favor dos holandeses, abandonando o rei legítimo de Inglaterra. A Revolução Gloriosa não foi uma restauração da ordem correta, como dizia Burke, foi o fim da dinastia Stuart e dos católicos em Inglaterra, numa luta fraticida que vinha desde Henrique VIII. A dinastia dos Stuart foi a última barreira contra a plutocracia na Inglaterra, uma forma de poder essencialmente ligada a uma elite e a uma Igreja indissociável do Estado.




Burke defendia a aristocracia imobiliária e comercial britânica representada pelo Parlamento. Por isso defendeu a Revolução Gloriosa e não emitiu uma palavra contra Cromwell. Por isso jurou contra a transubstanciação e fez o voto de supremacia que negou a tantos católicos um emprego e a tantos outros a vida, como a Thomas More. Burke afirmou muitas coisas certas, mas dificilmente escapa à crítica de Marx de que sempre se vendeu no melhor mercado – o partido whig era a aristocracia e o puritanismo. A restrição à posse da terra para católicos, após a vitória de Guilherme III na Irlanda, em 1690, foi desastrosa para a nação irlandesa, que sobrevivia de uma economia agrária.13

As suas relações com a Companhia das Índias levaram-no a perseguir um homem respeitador dos costumes e tradições indianas, Warren Hastings, substituindo-o pelos típicos evangélicos protestantes que com a sua arrogância e exploração conduziram a Índia aos primeiros motins de 1857.
Para Chesterton, a Revolução Gloriosa encerrou o que tinha sido iniciado por Henrique VIII e continuado por Cromwell: “A revolução dos ricos contra os pobres.”7

Diz Chesterton: “O seu argumento é o de que nós temos alguma protecção pelo acaso natural e pelo nascimento. E como nos atrevemos a discordar, defendendo o mesmo para todos os homens como se fossemos imagens de Deus (imago Dei de São Tomás)? (…) Então, muitos anos antes de Darwin dar a sua machadada na democracia, o essencial do argumento darwiniano estava a ser usado contra a Revolução Francesa. O homem deve adaptar-se a tudo, como um animal; não pode modificar tudo, como um anjo.”

"O último grito do optimismo e deísmo do século dezoito veio pela voz de Stern: Deus regula o vento para o cordeiro tosquiado. E Burke, o evolucionista, responde: Não, Deus regula o cordeiro tosquiado para o vento. É o cordeiro que tem que se adaptar, ou seja, morre ou transforma-se numa espécie peculiar de cordeiro que gosta de permanecer numa corrente de ar."





O mundo de Burke compreende o escravo confinado à sua pocilga e o aristocrata snob e nada pode alterar este processo evolutivo. O processo gradual é assim melhor que um processo abrupto; um relativismo gradual melhor que um relativismo radical. Ambos numa cosmovisão destituída do divino. É um iluminismo.


Chesterton crê que os ingleses como Burke ao acreditarem no processo, crêem que o passado passou, ao passo que os franceses capazes de romper com o passado podem voltar a restaurar o passado, se o acharem por conveniente: “Aqueles que tudo derrubaram podem tudo voltar a recolocar, mas aqueles que tudo incorporaram, nada poderão restaurar.”
“O ponto mais importante de uma revolução é o de que ela é a única estrada para qualquer coisa – até para a restauração. A revolução não pode ser apenas uma revolta dos vivos, também tem que ser uma ressurreição dos mortos.”8


Não basta deixar as coisas como estão; é necessário agir sobre elas. Porque a mutabilidade, a entropia, faz parte da natureza do mundo e do homem. A política não é mera preservação para salvaguardar a evolução. A videira necessita ser podada: o revolucionário corta as cepas; o conservador recusa podar as videiras. Um provoca uma morte rápida, o outro, uma morte lenta. Chesterton outra vez: “Uma vigilância extrema é necessária por parte do cidadão devido à enorme rapidez com que as instituições humanas envelhecem.”


É necessário um terceiro lado para fazer um triângulo. A nossa alternativa não é a morte rápida ou a morte lenta, mas num mundo sem Deus como o nosso, a restauração e ressurreição só poderão sobrevir com o regresso da fé.

Na perspectiva da videira, será melhor viver sem ser podada, definhando, do que ser cortada pela raiz. Mas esse lento definhar não poderá ocultar-nos o verdadeiro caminho, o terceiro lado do triângulo, o equilíbrio.







“E queda-se ténue mesmo a meio
A ponte nomeada Ambos-e-Nenhum
(…)
Onde as coisas não são o que parecem,
Mas o que significam”.9



“Penso ser legítimo afirmar que o comunismo, o nacional socialismo, o capitalismo e a democracia liberal, são na verdade três formas de uma mesma coisa, que elas se movem em caminhos separados mas com o mesmo destino final, i.e., a mecanização da vida humana e a completa subordinação do indivíduo ao Estado e/ou ao processo económico.
Evidentemente que não estou a afirmar que são completamente equivalentes, de que não temos o direito de preferir um em detrimento do outro. No entanto, creio que um cristão não os pode conceber como a solução derradeira do problema da civilização, ou mesmo como a solução possível.
A cristandade ergue-se contra qualquer sistema social que reclama a completude do homem e que se propõe como a finalidade última da acção do homem, uma vez que afirma com desassombro que a essência da natureza humana ultrapassa qualquer sistema económico ou político. A civilização é a Estrada pela qual o homem caminha, não a casa em que ele habita. A sua verdadeira cidade situa-se noutro lugar.”2


Diz Chesterton: “Nos clubes de pensadores é tido como sensato que avançar com o argumento convencional é sinal de inteligência e sanidade. Pelo contrário, é tido como sinal de lirismo avançar com uma opinião própria. Esta filosofia assenta no princípio de Euclides de que dois lados de uma questão são sempre superiores ao terceiro lado. Mas existe sempre um terceiro lado. Dois lados não definem um espaço.”10


“Os sábios peneiram a razão por um crivo estreito que retém a areia e perde o ouro.”11


António Campos







REFERÊNCIAS:


1 – João Pereira Coutinho, Conservadorismo. Dom Quixote, 2014.


2 - Christopher Dawson, Religion and the Modern State. Sheed & Ward, 1935.


3 – Chesterton, Illustrated London News, Dezembro de 1907.

4 – G. Reale – D. Antiseri, História da Filosofia, vol. 4, Paulus, 2007.

5 – Chesterton, The Outline of Sanity.

6 - Chesterton, Os Disparates do Mundo, cap. O Império do Insecto.

7 – Chesterton, A Short History of England.

8 – Chesterton, A Miscellany of Men.

9 – Chesterton, Ubbi Ecclesia.

13 - 

10 – Chesterton, Illustrated London News, Two Sides of a Question, Junho de 1911.


11 – Chesterton, The Convert.

12 - Jaime Nogueira Pinto. Ideologia de Razão e Estado. Civilização, 2013.


14 – Norman Davies, The Isles: A History (London: Macmillan,1999), pág. 629.

domingo, 3 de janeiro de 2016

Chesterton – A Nova Jerusalém



Confesso que só entendi o sentido das procissões quando me explicaram que eram uma alegoria da
vida: uma viagem em que, como “o ferro com o ferro se aguça, o homem afina-se ao contacto com outros”, Prov. 27, 17-18. Ler A Nova Jerusalém é uma viagem pelo ambiente da Palestina mas também pelo ambiente do homem. É um sair de casa para entender a nossa casa. É olhar a nossa casa como se a víssemos pela primeira vez. Este sempre foi o método de Chesterton, “para entrar no reino é necessário nascer de novo”. O livro é, pois, uma viagem. Uma viagem à Palestina, uma viagem ao ocidente e à cristandade, uma viagem pela alma humana. Pleno de sentidos literais e alegóricos sobrepostos, como a Bíblia, sobretudo se considerarmos o livro de Job e os quatro evangelistas.


Uma ideia interessante exposta no livro é a de que a Nova Jerusalém, a nova polis, é a Cristandade e que a cristandade se move num mar de coisas recorrentes, de ideias ou ambientes de época que aparecem como novas, mas que são antigas; recorrem no tempo. Então a recorrência no tempo, é a marca das coisas eternas, boas ou más.


“Tomei consciência disso quando me dirigia à Gare de Lyon e, caminhando por uma série de esplanadas, visualizei no final da rua uma coluna ao fundo, encimada por uma figura dançante: a Liberdade que dançava sobre a queda da Bastilha.”



(…)


“À medida que olhava para essa deusa esculpida encimando a coluna clássica, a minha mente viajou para outra época no passado, e eu interrogava-me de onde e de que época, tinha vindo esse ideal republicano de liberdade, democracia e igualdade. E a resposta aflorou claramente na minha mente: o lugar de onde tinha vindo era o mesmo lugar para onde eu agora me dirigia, Roma. Foi quando cheguei a Roma que constatei a realidade simples que simplificou tudo. Eu não conheço nada que cause mais estupefação do que essa súbita verticalidade, como ruas escalando o céu, onde se situa, revestido de telhas, de tijolos e de pedra, essa pequena pedra que cresceu e encobriu toda a terra: o Capitólio.”


Chesterton continua o argumento defendendo que a revolução francesa (e antes a americana) se fez no sentido de um neoclassicismo.


“Aqui, na penumbra cinzenta da nossa história, situava-se a forte república que colocou o pé no pescoço de reis; e foi seguramente daqui que o espírito da república voou como uma águia para pousar nesse pilar distante da terra dos gauleses. Porque deve ser lembrado (até por ser muito esquecido) que se Paris herdou o que se pode chamar a autoridade de Roma, é igualmente verdade que Roma antecipou aquilo a que muitas vezes se chama a anarquia de Paris.”


“Os cidadãos eram muitas vezes rebeldes, mas existiam homens que não eram rebeldes, porque não eram cidadãos. O mundo antigo forçava um grande número de pessoas a fazer o trabalho do mundo em primeiro lugar, para permitir que um grupo mais restrito de uma elite privilegiada lutasse pelo governo do mundo. Trata-se de uma verdade muito simples; é a palavra escravatura, que não é o nome de um crime como a simonia 1, mas antes de um esquema como o socialismo. Por vezes muito semelhante ao socialismo.”





Mas este ressurgimento não foi completo, porque após a revolução francesa se manteve a noção de liberdade do homem e a escravatura não foi reinstituída. Chesterton atribui a responsabilidade ao que aconteceu no interregno: “O que é que fez a diferença? O que é que aconteceu entre a ascensão do Império Romano e a ascensão da República Francesa? Porque é que os cidadãos em igualdade da primeira república achavam natural existirem escravos enquanto que os cidadãos em igualdade da segunda não admitiam que houvesse escravos?”


Foi o cristianismo que trouxe o singular valor da dignidade da pessoa humana como filho de Deus. Cristo veio matar o paganismo da Antiguidade e terminar com a escravatura. Também aqui existe uma metáfora ou melhor, uma alegoria. Terminou não apenas com a escravatura propriamente dita, mas também com a escravatura do pecado.


“Porque na primeira república existia uma igualdade entre cidadãos e na segunda a igualdade era entre homens.”


Esta recorrência no sistema político também é acompanhada por uma recorrência na esfera moral e religiosa:


“…nada se perdeu de forma tão clara nos nossos ideais religiosos como o valor da tenacidade. Chama-se à moda progresso. Cada nova moda é uma nova fé. Mas cada fé nova oferece tudo menos fidelidade. Torna-se necessário insistir que as ideias mais altas e mais valiosas do mundo, incluindo a cristandade, nunca teriam sobrevivido se não tivessem sobrevivido à sua própria morte, mesmo no sentido de morte diária. O ideal sempre esteve fora de moda desde o primeiro dia. É por isso que é eterno, pois o que tem uma época está condenado.”





Numa fantástica viagem pela razão humana, Chesterton vai demonstrar que a apostasia moderna, essa separação que a mente humana fez de Deus, vai novamente lançar a alma humana no pecado e a razão humana na irracionalidade. A emergência do paganismo fez-se após e por meio do cepticismo:
“A palavra agnóstico deixou de ser um eufemismo para ateu. Passou a ser uma palavra definidora de um estado mental, que admite muitas possibilidades para além do ateísmo, não excluindo nenhuma do politeísmo. Já não se trata de definir e depois negar um único poder central, mas de lançar a mente num desnorte de novos poderes que se podem sobrepor e até conflituar. A própria natureza deixou de ser natural.”


“A verdade é que por múltiplos canais alguma coisa voltou à mente moderna. Não é cristão. Pelo contrário, será mais correcto dizer que é o paganismo. Na realidade um tipo de paganismo muito especial, uma vez que se trata do politeísmo. A palavra surpreenderá muita gente, mas não as pessoas que conhecem melhor o mundo moderno. Quando eu uma vez disse a um distinto professor de psicologia de Oxford que a minha visão do universo não era igual à sua, ele replicou:

- Porquê universo? Porque não multiverso?

A essência do politeísmo é a adoração de deuses que não são Deus, i.e., que não são o autor e a autoridade última de todas as coisas. Os homens começam a pensar de forma crescente que existem múltiplas forças espirituais no universo, e os homens mais instruídos pensam que umas são mais confiáveis do que outras. O espiritismo invoca algo menor que o divino, de um mundo do qual não conhece nem a doutrina nem a posição. Tudo isto degenerará numa profusão de cultos psíquicos, desde a reverência aos poderes da natureza até ao uso de cristais e mascotes.”


(…)


“Eu não estou a brincar com o trocadilho entre agnosticismo e ignorância. Pelo contrário, a ignorância é uma coisa boa, porque pode ser criativa. E o que pode criar e dentro de pouco tempo criará, é uma das artes perdidas do mundo: uma mitologia. Numa palavra, o mundo moderno acabará exactamente onde a Bíblia se inicia.”





Chesterton envolve-nos então, em todo o capítulo IX, um dos mais notáveis, A Batalha com o Dragão, num outro tipo de argumento para iluminar a recorrência: “Nós nunca chegamos à conclusão que a nossa religião está certa como quando pensamos que ela está errada. Nós acabamos convencidos não pela evidência de que estávamos à espera mas por aquela de que não estávamos à espera.”


O argumento desenvolve como um conto de fadas e com a mesma dimensão alegórica. Consideremos a história de São Jorge e o Dragão: quantos estarão prontos a admitir que esta lenda tem um fundo de verdade e que pode ter havido em algum lugar um cavaleiro valente que figurasse a lendária figura de São Jorge? E quantos estãrão dispostos a admitir que o que ele matou era mesmo um dragão, daqueles que deitam fogo como o do filme do Hobbit?

Agora suponhamos que nós vamos para o local onde supostamente viveu o cavaleiro, em busca de indícios da sua existência, e o que encontramos são as descomunais ossadas do dragão e vestígios de que ele era mesmo um dragão autêntico!

É uma imagem que ilustra que por vezes é o dragão, e não o cavaleiro, que nos prova a existência de Deus e a insanidade do mundo. Chesterton usa para a sua imagem uma controvérsia que existiu em Inglaterra entre o primeiro-ministro Gladstone (1809-1898) e o biólogo darwinista ateu T. Huxley (1825-1895), sobre a passagem em que Jesus Cristo expulsou os demónios do gadareno para uma vara de porcos (Mc 5). Huxley representava o cepticismo e Glastone a ortodoxia da Escritura. Gladstone com o pior argumento veria o tempo conferir a sua validade; pelo contrário, o melhor argumento de Huxley viria a revelar-se falso. Huxley considerava que o futuro se encarregaria de depurar o ideal cristão, que considerava sublime, da demonologia cristã que considerava ridícula. Gladstone afirmava que no futuro os homens se iriam tentar libertar da moral cristã mas que uma forma de demonologia persistiria.

Na geração seguinte o escritor George Moore (1852-1933) representaria o espírito da época e desdenharia daquilo que Huxley considerara respeitável e enalteceria o que Huxley afirmara ridículo. Huxley declarara indestrutível a passagem de Miqueias “E Ele te declarou, ó homem, o que é bom” (Miq 6, 8) e perguntara com desdém, se alguém se lembraria de dizer que a justiça não tem valor ou que não é de admirar a misericórdia.


“E, no entanto George Moore, talvez antecipando Nietzsche em as rochas imersas na cave de Zarathustra, disse, se bem me lembro, que Cromwell deveria ser admirado pela sua injustiça. Ele deixou implícito que Cristo deveria ser censurado não por ter destruído os porcos mas por ter curado os doentes. Em suma, ele considerava a justiça inútil e a misericórdia desprezível.”


"O mundo estava a desdenhar da moralidade que Huxley afirmara que perduraria e estava a fazer reviver o misticismo que ele afirmara que desapareceria. Houve um regresso ao misticismo pagão, com as suas luas, os seus crepúsculos, os seus talismãs e feitiços. O misticismo regressou e trouxe os seus sete demónios piores do que ele.”





E Chesterton aponta o espiritismo introduzido em Inglaterra pela mão de Moore, Yeats, Sir William Crookes e Sir Arthur Conan Doyle: “Penso ser mais fácil imaginar um espírito maligno a agitar as pernas de um porco do que um espírito bom a mexer as pernas de uma mesa.”


O processo de chegada a este misticismo não foi teológico, mas sim psicológico, com a dissolução da personalidade.


“Se o dogma do inconsciente deriva do agnosticismo, então o agnosticismo deve funcionar nos dois sentidos. O homem não pode dizer que tem uma parte da qual não tem consciência e ao mesmo tempo dizer que tem absoluta consciência de que não tem contacto com o desconhecido.
Ele não pode afirmar que existe uma cave selada na sua casa da qual tudo desconhece, enquanto que afirma ter a certeza absoluta de que essa cave não possui uma passagem secreta para outro lugar. Ele não pode dizer que uma coisa é impossível se ele se confessar não apenas ignorante mas também inconsciente.”

Ou seja, só se pode falar de cosmos e de investigação supondo uma consciência integrada e com nexo, racional e não irracional.


“Se nós lidamos com quantidades desconhecidas nunca estaremos em condição de negar qualquer conexão com outras quantidades desconhecidas. Se eu tenho um “eu” do qual nada posso dizer, como poderei dizer sequer que ele é o meu “eu”? Como poderei dizer que sempre o tive e que não veio de qualquer outro lugar?”


O sobrenatural saudável foi substituído pelo pagão. O milagre que cura pelo acontecimento sobrenatural.

“Isto ainda se torna mais claro se sairmos da esfera da ciência para a sua penumbra na literatura. Existe uma conversa da moda de que se pode afirmar que o que perdemos não foram os demónios mas o poder de os exorcizar. Combina o oculto com o obsceno; a insanidade do materialismo com a insanidade do espiritualismo. Na história do gadareno aceitámos tudo excepto o Redentor, ficámos com os demónios e os porcos. Por outras palavras, não encontrámos São Jorge; encontrámos o Dragão.”





Em vez da moral crista ter sobrevivido na forma de uma moral humanista, a demonologia cristã sobreviveu na forma de uma feitiçaria. Seguimos a curiosidade de Huxley, “seguimos a razão até onde ela nos levasse” e a razão levou-nos a coisas que os racionalistas deveriam considerar bastante irracionais. A ciência supostamente deveria obrigar-nos a ser racionais, mas parece que agora nos obriga a ser irracionais.”


“Se um homem ignora o seu outro “eu” como poderá afirmar que o seu outro “eu” é ignorante? Ele já não pode afirmar orgulhosamente que ao menos ele sabe que nada sabe. Porque isso é exactamente o que ele não sabe. O chão na sua mente caiu e o abismo que se abriu pode conter certezas inconscientes bem como dúvidas inconscientes. Ele é demasiado ignorante mesmo para ignorar; e ele deve reconhecer ser agnóstico quanto à questão de ser ou não agnóstico.”


O dragão não só existe como foi para a irracionalidade que nos conduziu. Resta a questão do São Jorge: teremos indícios da existência desse São Jorge, desse cavaleiro, diria mesmo, desse cavalheiro que derrota o dragão?

Chesterton lembra que de todas as tribos da Antiguidade apenas uma encontrou Deus, produziu um profeta que foi o único profeta que afirmava ser Deus; por isso a velha religião matou o profeta e, em consequência, o profeta matou a velha religião. O facto de que ele não era apenas um profeta não é testemunhado apenas pelos que nele acreditam, mas também pelos que não acreditam. Porque ele não está morto nem quando é negado.


“Que sentido tem um moderno dizer que Cristo é como Áttis 2 ou como Mitras 3, quando logo a seguir está censurar a cristandade por não seguir Jesus Cristo? Curiosamente nunca se refere ao nosso culto pouco mitraico mas sim ao nosso culto pouco cristão. Não se encontram bolchevistas que se auto-denominem socialistas mitraicos, como muitos se dizem cristãos socialistas. Ao rejeitar a ortodoxia e mesmo a sanidade, as próprias insanidades e heresias do nosso tempo provam que dois mil anos depois o assunto continua vivo e que o nome é um nome a esconjurar. Deixemos que os críticos o esconjurem com outro nome. Em nenhum dos modernos clubes de pensadores se consegue motivar um místico com o nome de Mitras como se motiva um materialista com o nome de Jesus. Até há homens que negam a Deus mas aceitam a Cristo.”





Cristo é muitas vezes tomado como socialista ou pacifista. Chesterton afirma que alguém que leia um Evangelho, de fio a pavio, de forma despreconceituosa e honesta, se decide prontamente se Cristo é um mito ou é um homem.

“O exorcista eleva-se acima do poeta e mesmo do profeta; a história entre Canaã e o Calvário consiste numa longa guerra com demónios. Ele entendeu melhor que cem poetas a beleza das flores do campo de batalha (os lírios do campo, Mt 6, 28-31); mas ele meteu-se à batalha. E se as suas palavras têm algum significado, elas significam que existe mesmo ao nível dos nossos pés um abismo escondido entre as flores, um mal insondável.”


“E é aqui que a tradição nos adverte quanto ao perigo da imaginação perversa do homem: o nascimento monstruoso e a morte das coisas abomináveis. Falo disto sem qualquer forma de orgulho. Essas coisas são hediondas, não por serem remotas mas por serem próximas. Nos nossos cérebros, seguramente no meu, existem coisas enterradas tão más como aquelas enterradas no Mar Morto 4, e se Ele não tivesse vindo para as combater, mesmo nos recônditos sombrios da mente humana, então eu desconheceria para que veio. Seguramente que Ele não veio apenas para falar de flores ou de socialismo. Quanto mais compreendermos a vida como um conto de fadas, tanto mais o conto se resume a uma Guerra contra o Dragão que está a devastar a terra encantada. Tal como muitos afirmaram querer o drama de Hamlet sem o príncipe da Dinamarca, também eles quereriam o drama do inferno sem o príncipe das trevas. Não adiantarei mais sobre o assunto, excepto que a mensagem do Evangelho se resume a uma única questão.”






António Campos



Referências:


1 – Embora a simonia seja um crime teológico relacionado com a Igreja Católica, como apontado por Dante na Divina Comédia, que apontou o Papa Nicolau III no oitavo inferno de cabeça para baixo com as solas dos sapatos a arder, as igrejas cristãs mais dependentes do Rei ou do Estado, a Igreja de Inglaterra e a Igreja Ortodoxa, são actualmente muito mais sujeitas a este erro.


4 – O Mar Morto com alta densidade e teor de sal é tido como o local das desaparecidas cidades de Sodoma e de Gomorra.



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Outro problema analisado por Chesterton é o problema da iconoclastia: o grito iconoclasta do Islão representa essa recusa do deserto a todas aquelas faces odiosas do politeísmo oriental, tal como a iconoclastia de Israel representa a resistência do monoteísmo à contaminação. Já outra coisa se poderá dizer da persistência da iconoclastia no ocidente. A Reforma retirou Cristo da cruz com a justificação de que como tinha ressuscitado, Ele já não se encontrava lá. Pelo contrário a Igreja sempre persistiu em apresentar o crucifixo com Cristo, não só porque Deus sofre continuamente com os nossos pecados, no sentido em que sofre com quem sofre, mas também porque a sua posição na cruz não pode ser ocupada por qualquer ideal. Cristo é o holocausto perpétuo, como diz Daniel, não apenas um homem que foi crucificado pelos romanos como tantos outros. Do seio da Reforma surgiram prontamente ideais que ocuparam o lugar de Cristo na cruz: a liberdade e o proletariado.



“Um estrangeiro que visite a Inglaterra poderá afirmar que os nossos heróis nacionais, sobretudo os navais, são completamente negligenciados e deixados nas mãos da escória da plebe. Os retratos de Benbow e Nelson, quando exibidos em público em muitas barracas de feira, foram pintados em madeira pelos artistas mais amadores e incompetentes. O que ele não entende é que o sinal de Nelson pode ser pendurado alto em qualquer lugar, porque a reputação de Nelson é alta em todo o lado; então o seu mau retrato apenas assinala o seu bom nome. Pelo menos deveríamos desejar que as coisas profanas se transfigurassem pelo sagrado e não que as sagradas se profanassem pelo profano.”


Um outro assunto tratado são as simplificações: pensar que os judeus, muçulmanos ou cristãos pensam todos do mesmo modo e que atacar uma parte significa não gostar do todo:


“Existem muçulmanos que são modernistas; sempre existiu uma classe dirigente de judeus que são materialistas. Pode mesmo dizer-se que muitos judeus tendem a ser materialistas, mas todos tendem a ser monistas, no sentido melhor sendo monoteístas no sentido pior sendo materialistas.

A minha simpatia vai, confesso, para a impotente e invisível maioria. A minha simpatia vai para com os pobres judeus que acreditam no judaísmo tal como para com os maometanos que acreditam no maometanismo, já para não falar dessa multidão difusa de cristãos que acredita no cristianismo. Sinto-me mais ligado moralmente, e mesmo intelectualmente, a essas pessoas e mesmo à religião dessas pessoas do que às arrogantes e desdenhosas negações que constituem o núcleo daquilo a que se chamou o iluminismo.”


“O sionismo, como sempre o entendi e sempre defendi, consiste que seria melhor para todos os lados que Israel tivesse a dignidade e a responsabilidade de ter uma nação independente; e que isto deveria ser efectuado o mais rapidamente possível conferindo uma terra ao povo judeu, de preferência a Palestina.”